Desequilíbrio Muscular na Escoliose Idiopática do Adolescente: O Que Mostram os Exames de Imagem?
- Ft. Ana Cristina Sakamoto

- 7 de ago.
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A escoliose idiopática do adolescente (EIA) não se limita à curvatura da coluna visível nos exames. Internamente, o corpo realiza uma série de compensações musculares para tentar manter o equilíbrio e a postura. Com o tempo, essas adaptações podem causar alterações importantes nos músculos que sustentam a coluna — especialmente nos chamados músculos paravertebrais.
O que são os músculos paravertebrais?
Esses músculos ficam localizados ao longo da coluna vertebral e são fundamentais para a postura, equilíbrio e movimentação do tronco. Eles são divididos em três camadas, conforme é demonstrado na figura abaixo:
A - Camada profunda: músculos menores, como o semiespinal e o espinal torácico, responsáveis pelo controle postural mais fino e pela estabilidade da coluna.
B - Camada intermediária: composta por músculos como o longuíssimo torácico, que têm maior volume e força e são importantes para os movimentos maiores do tronco e estabilidade geral da coluna.
C - Camada superficial: inclui músculos como o trapézio e o latíssimo do dorso, que conectam a coluna aos membros superiores e coordenam os movimentos entre tronco e braços.
Quando há uma curvatura na coluna, como na EIA, essas camadas musculares podem sofrer desequilíbrios – ou seja, passar a funcionar de forma assimétrica entre o lado côncavo (mais fechado) e o lado convexo (mais aberto) da curva.

Ilustração adaptada com base em Gao et al., 2025. World Neurosurg. As camadas muscular profunda (A), intermediária (B) e superficial (C) são mostradas com os níveis analisados no estudo (UEV, AV e LEV).
Como esse desequilíbrio é estudado?
Um estudo recente, publicado em 2025 por Gao e colaboradores, investigou esse tema usando ressonância magnética para analisar os músculos paravertebrais em adolescentes com EIA com curva principal torácica (curvatura localizada na região do tórax).
Os pesquisadores analisaram três pontos da curva:
A vértebra do início da curva (vértebra limite superior)
O ponto mais curvo da coluna (vértebra apical)
A vértebra do final da curva (vértebra limite inferior)
Em cada ponto, avaliaram dois parâmetros importantes:
Área de secção transversal do músculo – que indica o volume muscular e a capacidade de gerar força.
Infiltração gordurosa – que mostra quanto de gordura está presente dentro do músculo, o que está associado à perda de força e atrofia.
Principais descobertas:
✔ Na vértebra apical (ápice da curva):Os músculos do lado convexo apresentaram maior área de secção transversal. Já os músculos do lado côncavo mostraram mais infiltração de gordura, especialmente nas camadas intermediária e profunda.
✔ Nas vértebras limite superior e inferior:O desequilíbrio foi mais evidente na camada intermediária, com músculos mais desenvolvidos no lado convexo. A infiltração gordurosa, porém, não apresentou diferença significativa nesses pontos.
✔ Relação com a gravidade da curva:A área dos músculos paravertebrais, especialmente na camada profunda, esteve fortemente associada ao ângulo de Cobb e à rotação vertebral — sugerindo que essa camada tem um papel importante como compensação à deformidade da coluna.
O que isso significa para pacientes e famílias?
Essas descobertas ajudam a entender por que o tratamento da escoliose deve ir além do acompanhamento da curva. O desequilíbrio muscular pode ter impacto funcional e postural ao longo do tempo. Por isso, tratamentos que considerem a musculatura paravertebral, como fisioterapia especializada, exercícios específicos e monitoramento com exames de imagem, são essenciais.
Embora esse estudo tenha analisado pacientes com curvas mais severas (média de 51° de Cobb) e indicação cirúrgica, ele reforça a importância de compreender o papel da musculatura no desenvolvimento e progressão da escoliose – e como ela pode ser alvo de estratégias terapêuticas.
Vale lembrar:
Os pacientes avaliados no estudo tinham curva principal torácica, com indicação cirúrgica. Não foi informado se haviam realizado tratamento conservador previamente (como uso de coletes ou fisioterapia). Esses fatores podem influenciar os resultados e precisam ser levados em conta na interpretação dos dados.

Conteúdo Autoral desenvolvido pela
Ft. Ana Cristina Sakamoto
Referência científica:
Gao Y, Ying J, Lai B, Gao R, Jiang H, Zhou X. Evaluation of Thoracic Paraspinal Muscles Imbalance in Adolescent Idiopathic Scoliosis with Main Thoracic Curve Based on Magnetic Resonance Imaging. World Neurosurg. 2025 Jun;198:124025. doi: 10.1016/j.wneu.2025.124025.




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