O que sabemos hoje sobre as diferentes características da dor nas costas em adultos com e sem escoliose
- Ft. Ana Cristina Sakamoto

- 27 de out.
- 3 min de leitura
A dor nas costas é uma das queixas mais comuns entre adultos e, em muitos casos, pode estar ligada a alterações na coluna. Mas quando essa dor está associada à escoliose, o quadro pode apresentar características diferentes, tanto em relação à localização quanto à intensidade e duração.
Um estudo publicado em 2023 por Zaina e colaboradores, no Journal of Clinical Medicine, reuniu o que a ciência já sabe sobre as diferenças da dor nas costas em adultos com e sem escoliose, ajudando profissionais e pacientes a compreenderem melhor essa condição.
A escoliose no adulto é mais frequente do que se imagina — especialmente entre mulheres — e está associada à dor e limitação funcional na região lombar. Estima-se que cerca de 37,6% das pessoas acima de 60 anos tenham algum grau de escoliose.
Mas afinal, por que a escoliose aparece e como ela se relaciona com a dor nas costas?
Existem dois tipos principais de escoliose que podem estar presentes na vida adulta:
1. Escoliose idiopática do adolescente (EIA): é aquela que começou na adolescência e continuou progredindo ao longo dos anos.
2. Escoliose degenerativa (ou “de novo”): surge apenas na fase adulta, como resultado do desgaste natural dos discos intervertebrais e das vértebras.
Apesar das diferenças na origem, os impactos na qualidade de vida podem ser semelhantes, já que ambas estão associadas à dor nas costas e à limitação funcional.
Curvas acima de 30 graus, em quem teve escoliose idiopática, podem causar desconforto significativo. Já na escoliose degenerativa, mesmo curvas menores podem provocar dor importante, e o diagnóstico nem sempre é simples, já que esse tipo pode ser confundido com a idiopática quando descoberta tardiamente.
Um desafio comum na prática clínica é entender se a dor realmente vem da escoliose ou se é apenas uma lombalgia inespecífica (aquela dor que aparece sem causa específica e é muito frequente na população geral).
O que a revisão sistemática investigou:
O estudo conduzido por Zaina et al. (2023) buscou compreender as características da dor nas costas em adultos com escoliose — seja ela idiopática ou degenerativa — e compará-las com a dor em pessoas sem escoliose.
Os autores reuniram e analisaram diversos estudos clínicos, com foco em como a dor se manifesta, onde ela aparece e como afeta as atividades do dia a dia.
Principais achados:
Localização da dor: nos pacientes com escoliose, a dor foi mais comum na região lombar, tóraco-lombar e no ápice da curva.
Em casos de dupla curva, a dor aparecia mais na curva inferior.
Quando a curva era torácica, a dor se localizava na junção distal.
78% dos pacientes com escoliose relataram dor unilateral, geralmente no lado convexo da curva, enquanto a maioria dos pacientes sem escoliose descreveu uma dor centralizada ou simétrica.
Tipo e intensidade da dor: a dor em quem tem escoliose tende a ser mais constante, crônica e de maior intensidade, enquanto em pessoas sem escoliose ela costuma ser episódica e recorrente. Ainda assim, os estudos não mostraram consenso se esses aspectos são suficientes para diferenciar claramente os dois grupos.
Irradiação e características específicas: a dor irradiada (que se espalha para outras regiões), a dor assimétrica e a cruralgia (dor na face anterior da coxa) foram mais frequentes em pacientes com escoliose. Já a ciatalgia clássica apareceu mais entre quem não tinha escoliose.
Fatores que agravam a dor: pacientes com escoliose relataram maior desconforto ao ficar em pé ou sentar por longos períodos, além de sentir necessidade de mudar de posição com frequência.
Curvas acima de 40° foram associadas a limitações maiores em atividades como caminhar.
Mesmo assim, a intensidade da dor e o grau de incapacidade funcional não mostraram diferenças significativas entre os grupos.
Por que esses achados são importantes:
Com o envelhecimento populacional, os casos de escoliose degenerativa estão se tornando cada vez mais frequentes. Saber identificar as características específicas da dor em pacientes com escoliose é essencial para que os profissionais consigam diferenciar uma dor causada pela deformidade da coluna de uma dor lombar comum.
Isso permite direcionar melhor o tratamento e as estratégias de prevenção, tanto para quem já tem escoliose quanto para quem deseja manter a coluna saudável com o passar dos anos.

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Referência:
Zaina, F., Marchese, R., Donzelli, S., Cordani, C., Pulici, C., McAviney, J., & Negrini, S. Current Knowledge on the Different Characteristics of Back Pain in Adults with and without Scoliosis: A Systematic Review. Journal of Clinical Medicine, v. 12, n. 16, p. 5182, 2023. DOI: 10.3390/jcm12165182




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